Introdução
O espermograma é um exame efetuado com a finalidade de avaliar a fertilidade masculina e também, avaliar as funções dos órgãos do sistema reprodutor, como a função testicular, do epidídimo e das glândulas acessórias. Através da avaliação de cada constituinte do sêmen, podemos localizar possíveis áreas que estejam funcionando inadequadamente ou alguma patologia. Os procedimentos que compõem o exame varia de acordo com a finalidade do exame, além de existirem diferentes formas de coleta, o que pode variar de acordo com cada laboratório de andrologia.
No espermograma, pode-se analisar os parâmetros de fertilidade, volume do sêmen, número total de espermatozoides, motilidade e morfologia dos espermatozoides, potencial hidrogeniônico (pH), leucócitos, imunoglobulinas e substâncias como: zinco (alguns estudos apontaram que o zinco, em níveis abaixo do normal, estão associados à infertilidade masculina); glucosidase seminal neutra; e frutose. Além da qualidade do sêmen a partir de uma nomenclatura para cada espermatozoide. Os valores de referência podem variar de acordo com cada laboratório, mas o que estão presentes nesse artigo são os valores de limite inferior de referência segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
É importante esclarecer que os valores de referência e parâmetros podem ser alterados nas novas edições do Manual de laboratório da OMS para exame e processamento do sêmen humano.
Composição do Sêmen e os Órgãos Envolvidos

O sêmen é uma mistura de várias substâncias que são secretadas durante o seu caminho, da produção no testículo até a ejaculação, pelas diferentes glândulas que estão presentes no sistema reprodutor. Geralmente, em condições fisiológicas, o sêmen é composto por 90% de secreções dos órgãos acessórios como a secreção prostática, bulbouretrais e uretrais, e a análise dessas reflete a atividade secretora desses órgãos. O número total de espermatozoides reflete a produção dos testículos e a potência dos ductos pós-testiculares.
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Em resumo, as glândulas bulbouretrais secretam um muco que tem como função a lubrificação e servir como um tampão neutralizando o meio ácido da vagina. As vesículas seminais liberam prostaglandinas que influenciam a motilidade e o transporte dos espermatozoides, essa também junto à próstata liberam nutrientes para o metabolismo dos espermatozoides. Além de todas essas funções, essas secreções promovem a limpeza do trato genital masculino e impedem, em algumas situações, a entrada de patógenos pela uretra.
Esses órgãos além de servirem como composição do sistema reprodutor, alguns fazem parte também do sistema endócrino (nomeados como gônadas), participando na liberação de hormônios que atuam na diferenciação de características biológicas e outras funções.
Formas de coleta
A amostra de sêmen deve seguir normas para ser coletada, de modo a preservar e manter a integridade da amostra para não afetar os resultados. Por isso a amostra deve ser coletada em uma sala privada o mais próxima ao laboratório para minimizar a exposição à flutuação de temperatura e o intervalo entre a coleta e o processamento. Deve o profissional que irá passar as instruções de coleta ao paciente, ser bem claro e preciso quanto a todos os passos. Segue uma lista de algumas recomendações:
Abstinência sexual de no mínimo 2 dias e máximo de 7 dias;
O paciente deve relatar qualquer perda de fração da amostra;
Registrar no formulário as informações devidas, incluindo dificuldades na produção da amostra e o intervalo entre coleta e análise;
A amostra deve ser obtida através de masturbação e ejaculada em recipiente limpo e estéril de preferência, de boca larga e feito de material não tóxico para os espermatozoides;
O paciente deve urinar antes da coleta, lavar as mãos e o pênis com sabão, enxaguar o sabão, secar as mãos e o pênis com uma toalha descartável.
As instruções para coleta de sêmen em casa ou com preservativo, como são circunstâncias excepcionais, você pode consultá-las no Manual de laboratório da OMS para exame e processamento do sêmen humano.
Processamento e Análise
As amostras de sêmen, por poder conter agentes infecciosos, devem ser tratados como risco biológico. A primeira análise feita, como em muitos exames, é a análise macroscópica. Nos primeiros momentos após a ejaculação, o sêmen é uma massa coagulada semissólida e após alguns minutos ele começa a se liquefazer tornando-se uma mistura homogênea e aguada. Essa liquefação completa em torno de 15 minutos à temperatura ambiente, se isso não ocorrer em até 60 minutos, deve ser registrado, nesses casos a amostra deve ser misturada mecanicamente ou por digestão enzimática.
O próximo passo é analisar a viscosidade da amostra após a liquefação, e para isso o profissional deve aspirar a amostra com uma pipeta descartável de plástico de diâmetro com cerca de 1,5 mm, permitindo que o sêmen caia por gravidade. Em uma amostra considerada normal, o sêmen deve deixar a pipeta em pequenas gotas discretas, mas se a viscosidade estiver alterada, formará um fio com mais de 2 cm de comprimento após a saída da pipeta.
A aparência considerada normal do sêmen liquefeito é uma aparência homogênea, cinza e opalescente. Se houver variação na concentração de espermatozoides, essa cor pode mudar e assumir até tonalidades diferentes se houver presença de outras substâncias. Feito essa análise, partimos para as análises quantitativas.
O volume da amostra deve ser medido de forma precisa, pois é ela quem permite calcular o total de espermatozoides e células não-espermáticas no ejaculado. O valor de limite inferior de referência para o volume do sêmen é de 1,5 mL.
Para conhecer os métodos de análise mais aprofundados de cada parâmetro consulte o Manual de laboratório da OMS para exame e processamento do sêmen humano, segue uma tabela com o valor limite inferior de referência de cada parâmetro:
Parâmetro | Limite Inferior de Referência |
---|---|
Volume do sêmen (mL) | 1,5 (1,4 - 1,7) |
Número total de espermatozoides (10^6 por ejaculado) | 39 (33 - 46) |
Concentração de espermatozoides (10^6 por mL) | 15 (12 - 16) |
Motilidade total (PR + NP, %) | 40 (38 - 42) |
Motilidade progressiva (PR, %) | 32 (31 - 34) |
Vitalidade (espermatozoides vivos, %) | 58 (55 - 63) |
Morfologia espermática (formas normais, %) | 4 (3,0 - 4,0) |
Outros valores limites de consenso | |
pH | ≥ 7,2 |
Leucócitos positivos para peroxidase (10^6 por mL) | < 1,0 |
Teste MAR (espermatozoides móveis com partículas ligadas, %) | < 50 |
Teste de imunoglobulina (espermatozoides móveis com esferas aderidas, %) | < 50 |
Zinco seminal (umol/ejaculado) | ≥ 2,4 |
Frutose seminal (umol/ejaculado) | ≥ 13 |
Glucosidase seminal neutra (mU/ejaculado) | ≥ 20 |
Tabela 1 - Limites de referência mais baixos (5° percentis e seus intervalos de confiança de 95%) para as características do sêmen. Disponível em: Manual de laboratório da OMS para o exame e processamento do sêmen humano. Acesso em 01 Fev. 2021.
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Conclusão
A realização do exame de espermograma é muito utilizada no processo de vasectomia para confirmação de sucesso da cirurgia, em casos de casais com problemas de infertilidade e demais patologias que possam estar acometendo o paciente. A preparação dos profissionais envolvidos no exame em todos os níveis, e do paciente também, é necessária para que os resultados não sofram alterações por má condutas durante o processo, dessa forma o diálogo entre os envolvidos, deve se dar de forma clara e que não fique nenhuma dúvida em relação à coleta e resultados. É importante ressaltar que para um resultado eficaz, não são somente um exame necessário, e sim uma sequência de análises com o intervalo de coleta bem estabelecido.
Espero que tenha gostado, comente se você pensou que faltou algo ou o que você acredita que poderia ajudar na melhoria desse exame, ou no artigo. Estamos sempre dispostos a receber críticas, dúvidas e sugestões, nos envie na caixa de contato na coluna da direita. As referências bibliográficas desse artigo estão dispostas logo abaixo.
Referências
Organização Mundial da Saúde (org.). Manual de laboratório da OMS: exame e processamento do sêmen humano. Exame e processamento do sêmen humano. 2018. Tradução pelo Programa Nacional de Controle de Qualidade. Disponível em: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/44261/9789241547789-por.pdf?ua=1. Acesso em: 01 fev. 2021.
Unglaub, S. D. Fisiologia Humana. Brasil: Grupo A. 9788582714041. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788582714041/. Acesso em: 01 Feb 2021
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