A poliomielite, também conhecida como paralisia infantil, é uma doença viral altamente contagiosa causada pelo poliovírus. Antes da introdução das vacinas, a poliomielite era uma das doenças mais temidas, causando paralisia e morte em diversas partes do mundo. A erradicação da poliomielite é um objetivo global de saúde pública, impulsionado pela iniciativa global de erradicação da poliomielite liderada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), Rotary International, Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA e UNICEF.
Vacina da Polio. (Alan Janssen, MSPH) |
História da Poliomielite
A poliomielite é uma doença antiga, com descrições que remontam ao Egito Antigo. A primeira epidemia documentada ocorreu em 1834 nas ilhas de Santa Helena. No século XX, a poliomielite tornou-se uma das doenças infantis mais temidas, com grandes epidemias ocorrendo em todo o mundo. A introdução da vacina inativada contra a poliomielite (VIP) por Jonas Salk em 1955, seguida pela vacina oral contra a poliomielite (VOP) desenvolvida por Albert Sabin na década de 1960, mudou drasticamente o curso da doença.
Epidemiologia
Transmissão
O poliovírus é transmitido principalmente via fecal-oral, mas também pode ser transmitido por meio de gotículas respiratórias. O vírus entra no corpo pela boca, multiplica-se na faringe e no trato gastrointestinal e pode invadir o sistema nervoso central, causando paralisia.
Distribuição Global
Antes da introdução das vacinas, a poliomielite era endêmica em quase todos os países do mundo. Desde o lançamento da Iniciativa Global de Erradicação da Poliomielite em 1988, o número de casos de poliomielite diminuiu mais de 99%. Em 2021, apenas dois países, Afeganistão e Paquistão, continuavam a relatar casos endêmicos de poliomielite.
Impacto da Vacinação
A vacinação contra a poliomielite é extremamente eficaz. A VOP, que contém vírus atenuados, é particularmente útil em áreas com infraestrutura de saúde deficiente, pois induz imunidade intestinal, reduzindo a transmissão do vírus. A VIP, que contém vírus inativados, é preferida em países onde a poliomielite foi erradicada, devido ao risco de reverter à virulência associado à VOP.
Fisiologia do Poliovírus
Estrutura e Genoma
O poliovírus pertence ao gênero Enterovirus da família Picornaviridae. É um vírus pequeno, não envelopado, com um capsídeo icosaédrico composto por 60 subunidades, cada uma contendo quatro proteínas virais (VP1, VP2, VP3 e VP4). O genoma do poliovírus é um RNA de fita simples, de sentido positivo, com aproximadamente 7.500 nucleotídeos de comprimento.
Vírus da Poliomielite (Meredith Boyter Newlove, M.S.) |
Proteínas Virais
- VP1, VP2, VP3 e VP4: Essas proteínas formam a estrutura do capsídeo. VP1 é particularmente importante para a ligação do vírus ao receptor da célula hospedeira.
- RNA de fita simples: Codifica uma única poliproteína que é clivada em proteínas funcionais essenciais para a replicação viral e montagem do vírion.
Ciclo de Vida do Poliovírus
Adsorção e Penetração
O ciclo de vida do poliovírus começa com a adsorção à célula hospedeira. O vírus se liga especificamente ao receptor CD155, também conhecido como receptor do poliovírus (PVR), que está presente na superfície das células humanas. Após a ligação, o poliovírus é internalizado por endocitose mediada por receptor.
Desnudamento e Tradução
Uma vez dentro da célula, o RNA viral é liberado no citoplasma. Como o RNA do poliovírus é de sentido positivo, ele funciona diretamente como mRNA, sendo traduzido pelos ribossomos da célula hospedeira para produzir uma poliproteína viral única. Esta poliproteína é processada por proteases virais em proteínas funcionais.
Replicação do RNA
A replicação do RNA viral ocorre em compartimentos de membrana no citoplasma da célula hospedeira. O RNA de sentido positivo é primeiro transcrito em RNA de sentido negativo, que serve como molde para a síntese de novos genomas de RNA de sentido positivo. Esse processo é mediado pela RNA polimerase RNA-dependente do vírus.
Montagem e Liberação
Os novos genomas de RNA viral são encapsulados pelas proteínas do capsídeo para formar novos vírions. A montagem ocorre no citoplasma, e os vírions completos são liberados da célula hospedeira por lise celular, causando a morte da célula.
Patogênese
Entrada e Disseminação
Após a ingestão, o poliovírus se replica inicialmente na orofaringe e no intestino. A partir desses locais, o vírus pode entrar na corrente sanguínea (viremia) e disseminar-se para outros tecidos. Em muitos casos, a infecção é limitada e controlada pelo sistema imunológico, resultando em uma infecção assintomática ou uma doença menor com sintomas inespecíficos.
Invasão do Sistema Nervoso Central
Em uma pequena porcentagem de casos, o poliovírus invade o sistema nervoso central (SNC). O vírus pode atravessar a barreira hematoencefálica e infectar neurônios motores do corno anterior da medula espinhal, tronco cerebral ou córtex motor. A destruição desses neurônios motores resulta em paralisia flácida aguda.
Imunidade
A resposta imunológica ao poliovírus inclui a produção de anticorpos neutralizantes específicos que são importantes para a prevenção de viremia secundária e a disseminação do vírus para o SNC. A imunidade humoral (anticorpos) e a imunidade celular (mediada por células T) são essenciais para a resolução da infecção e proteção contra futuras exposições ao vírus.
Perspectivas Futuras e Estudos Atuais
Pesquisas contínuas visam entender melhor a interação entre o poliovírus e o sistema imunológico do hospedeiro, os mecanismos de neuroinvasão e neurovirulência, e o desenvolvimento de novas vacinas e terapias antivirais. Avanços na biologia molecular e virologia continuam a fornecer insights valiosos que podem contribuir para a erradicação global da poliomielite e a prevenção de outras doenças virais.
Diagnóstico
Sintomas Clínicos
A maioria das infecções por poliovírus é assintomática. Quando ocorrem sintomas, eles podem incluir febre, fadiga, dor de cabeça, vômitos, rigidez no pescoço e dor nos membros. Menos de 1% das infecções resultam em paralisia, que pode ser permanente.
Diagnóstico Laboratorial
O diagnóstico laboratorial é fundamental para confirmar a presença do poliovírus. As principais técnicas incluem a cultura viral, métodos de biologia molecular e análise de amostras fecais e do líquor.
Cultura Viral
- Procedimento: As amostras de fezes, líquor ou secreções faríngeas são cultivadas em linhagens celulares suscetíveis ao poliovírus, como células Vero.
- Objetivo: Detectar a presença de poliovírus por efeito citopático (ECP) nas células cultivadas.
- Limitações: Esse método pode ser demorado e requer laboratórios especializados com instalações de biossegurança adequadas.
Biologia Molecular
- Reação em Cadeia da Polimerase (PCR):
- Procedimento: O RNA viral é extraído de amostras de fezes, líquor ou sangue, e convertido em DNA complementar (cDNA) que é amplificado por PCR.
- Objetivo: Detectar e identificar a presença de poliovírus rapidamente.
- Vantagens: Alta sensibilidade e especificidade; permite a diferenciação entre poliovírus selvagem e vacinal.
Análise de Amostras Fecais
- Procedimento: As amostras de fezes são coletadas e analisadas para a presença de poliovírus.
- Objetivo: A detecção de poliovírus nas fezes é um indicativo de infecção, já que o vírus é excretado no trato gastrointestinal.
- Importância: Método padrão para a vigilância da poliomielite e confirmação diagnóstica em casos de paralisia flácida aguda (PFA).
Análise do Líquor (Líquido Cefalorraquidiano)
- Procedimento: Amostras de líquor são coletadas por punção lombar.
- Objetivo: Analisar o líquor para detectar poliovírus e sinais de infecção viral do SNC, como pleocitose (aumento de células brancas) e aumento de proteínas.
- Vantagens: Útil em casos suspeitos de envolvimento do SNC.
Sorologia
A sorologia pode ser utilizada para detectar anticorpos contra o poliovírus no soro do paciente. Esta abordagem é especialmente útil em casos onde a infecção ocorreu há algum tempo e o vírus pode não estar mais presente no trato gastrointestinal.
- Ensaio de Imunoabsorção Enzimática (ELISA):
- Procedimento: O sangue do paciente é coletado e o soro é testado para a presença de anticorpos específicos contra poliovírus.
- Objetivo: Medir os níveis de anticorpos IgM e IgG para determinar se houve uma infecção recente (IgM) ou anterior (IgG).
- Vantagens: Pode indicar imunidade anterior ou recente infecção; útil em pesquisas epidemiológicas.
Outros Métodos de Diagnóstico
Além dos métodos tradicionais de diagnóstico, novas tecnologias e abordagens estão sendo desenvolvidas para melhorar a detecção e a vigilância da poliomielite.
Sequenciamento de Nova Geração (NGS):
- Procedimento: Amostras virais são sequenciadas para obter informações detalhadas sobre o genoma do poliovírus.
- Objetivo: Identificar variantes do vírus, monitorar mutações e entender a epidemiologia molecular da poliomielite.
- Vantagens: Alta resolução e capacidade de detectar co-infecções e mutações emergentes.
Testes Rápidos:
- Procedimento: Testes point-of-care (POC) que podem ser realizados no local de atendimento.
- Objetivo: Fornecer resultados rápidos para facilitar decisões clínicas imediatas.
- Vantagens: Conveniência e rapidez; útil em cenários de surtos e áreas com infraestrutura laboratorial limitada.
Interpretação dos Resultados
A interpretação dos resultados dos testes de diagnóstico deve considerar o contexto clínico e epidemiológico. Um diagnóstico positivo de poliomielite baseia-se na combinação de achados clínicos, laboratoriais e, em muitos casos, na confirmação de exposição ao poliovírus selvagem ou derivado da vacina.
Diagnóstico Diferencial:
- Outras causas de paralisia flácida, como a síndrome de Guillain-Barré, mielite transversa e infecções por outros enterovírus, devem ser consideradas e descartadas.
Monitoramento e Vigilância:
- Casos confirmados de poliomielite devem ser notificados às autoridades de saúde pública para implementar medidas de controle e prevenção, incluindo campanhas de vacinação e investigação epidemiológica.
Marcadores Bioquímicos no Diagnóstico da Poliomielite
Embora a detecção do poliovírus em amostras clínicas seja o padrão ouro para o diagnóstico da poliomielite, a análise de marcadores bioquímicos pode fornecer informações adicionais sobre a resposta do organismo à infecção e auxiliar no diagnóstico diferencial. A seguir, detalharemos os principais marcadores bioquímicos e seu papel no contexto da poliomielite.
Proteína C Reativa (PCR)
A PCR é uma proteína de fase aguda que aumenta em resposta a inflamações e infecções. Na poliomielite, a elevação da PCR pode ser observada, refletindo a resposta inflamatória do organismo à infecção viral.
- Procedimento: O nível de PCR é medido no soro através de ensaios imunoturbidimétricos ou imunoensaios de alta sensibilidade.
- Objetivo: Identificar a presença de inflamação e monitorar a resposta do organismo à infecção.
- Vantagens: Rápido e fácil de executar; fornece um indicador geral de inflamação.
- Limitações: Não é específico para a poliomielite, pois níveis elevados de PCR podem ser observados em diversas condições inflamatórias e infecciosas.
Enzimas Musculares
Na poliomielite, a destruição dos neurônios motores pode levar à liberação de enzimas musculares na circulação, refletindo o dano muscular associado à paralisia.
Creatina Quinase (CK):
- Procedimento: Medição dos níveis de CK no soro.
- Objetivo: Detectar dano muscular, já que a CK é liberada das células musculares lesadas.
- Vantagens: Aumento dos níveis de CK pode indicar dano muscular.
- Limitações: A elevação da CK não é específica para poliomielite e pode ser observada em várias miopatias e condições de dano muscular.
Lactato Desidrogenase (LDH):
- Procedimento: Medição dos níveis de LDH no soro.
- Objetivo: Avaliar o dano tecidual geral, incluindo o muscular.
- Vantagens: LDH é um marcador sensível de lesão tecidual.
- Limitações: Não é específico para poliomielite; níveis elevados podem ocorrer em muitas condições de dano tecidual.
Eletrólitos e Equilíbrio Ácido-Base
Alterações nos eletrólitos e no equilíbrio ácido-base podem ser observadas em casos graves de poliomielite, especialmente em pacientes com insuficiência respiratória devido à paralisia dos músculos respiratórios.
Sódio, Potássio, Cálcio e Fósforo:
- Procedimento: Análise de sangue para medir os níveis desses eletrólitos.
- Objetivo: Monitorar e corrigir desequilíbrios eletrolíticos.
- Vantagens: Essencial para o manejo clínico de pacientes com poliomielite severa.
- Limitações: Alterações não são específicas da poliomielite, mas são importantes para o manejo clínico geral.
Gases Arteriais:
- Procedimento: Análise dos gases no sangue arterial para avaliar oxigenação e equilíbrio ácido-base.
- Objetivo: Detectar hipoxemia e acidose respiratória em pacientes com paralisia dos músculos respiratórios.
- Vantagens: Crucial para o manejo de pacientes com comprometimento respiratório.
- Limitações: Necessita de coleta de sangue arterial, que pode ser mais complexa do que a coleta de sangue venoso.
Citocinas e Marcadores Inflamatórios
A infecção pelo poliovírus pode induzir a produção de várias citocinas e marcadores inflamatórios, que podem ser medidos para entender melhor a resposta imunológica à infecção.
- Interleucina-6 (IL-6) e Fator de Necrose Tumoral-alfa (TNF-α):
- Procedimento: Medição dos níveis dessas citocinas no soro utilizando ensaios imunológicos, como ELISA.
- Objetivo: Avaliar a resposta inflamatória e imune.
- Vantagens: Fornece informações sobre a gravidade da resposta inflamatória.
- Limitações: Não são específicos para a poliomielite e podem ser elevados em muitas condições inflamatórias.
Líquido Cefalorraquidiano (LCR)
A análise do LCR pode fornecer informações valiosas sobre o envolvimento do sistema nervoso central (SNC) na poliomielite.
- Procedimento: Coleta de LCR por punção lombar seguida de análise laboratorial.
- Parâmetros Analisados:
- Contagem de Células Brancas: Aumento pode indicar pleocitose, comum em infecções virais do SNC.
- Proteínas: Níveis elevados podem refletir inflamação do SNC.
- Glicose: Normalmente, a glicose no LCR permanece normal em infecções virais.
- Objetivo: Confirmar a infecção do SNC e descartar outras causas de meningite ou encefalite.
- Vantagens: Fornece uma imagem clara do estado inflamatório do SNC.
- Limitações: Procedimento invasivo; análise não específica apenas para poliomielite.
Interpretação e Relevância Clínica
A análise dos marcadores bioquímicos, em conjunto com os achados clínicos e laboratoriais diretos, permite um diagnóstico mais preciso e um melhor manejo dos pacientes com poliomielite. Embora nenhum marcador bioquímico isolado seja específico para a poliomielite, a combinação de vários testes pode fornecer uma imagem abrangente da infecção e da resposta do organismo.
Tabela de resumo
Item de Diagnóstico | Procedimento | Alteração Esperada | Objetivo/Importância | Limitações |
---|---|---|---|---|
Sintomas Clínicos | Observação clínica | Fraqueza muscular, febre, dor de cabeça, rigidez no pescoço, paralisia flácida | Identificação inicial da doença com base nos sintomas | Sintomas inespecíficos; diagnóstico diferencial necessário |
Cultura Viral | Cultura de amostras de fezes, líquor ou secreções faríngeas | Presença de efeito citopático nas células cultivadas | Confirmação da presença do poliovírus | Demorado; requer laboratórios especializados |
PCR (Reação em Cadeia da Polimerase) | Extração de RNA viral e amplificação por PCR | Detecção de RNA viral | Alta sensibilidade e especificidade; diferenciação entre poliovírus selvagem e vacinal | Requer equipamentos e expertise especializada |
Análise de Amostras Fecais | Análise de fezes | Presença de poliovírus | Padrão ouro para confirmação de infecção por poliovírus | Pode não detectar o vírus em fases tardias da infecção |
Análise do Líquor (Líquido Cefalorraquidiano) | Coleta de líquor por punção lombar | Aumento de células brancas, proteínas elevadas | Confirma infecção do SNC; útil em casos suspeitos de envolvimento do SNC | Procedimento invasivo; análise não específica para poliomielite |
Sorologia (ELISA) | Teste de sangue para anticorpos IgM e IgG | Níveis elevados de IgM (infecção recente) e IgG (infecção passada) | Indica imunidade ou infecção recente/anterior | Não detecta o vírus diretamente; útil para pesquisas epidemiológicas |
Proteína C Reativa (PCR) | Medição de PCR no soro | Níveis elevados | Indicador de inflamação; monitoramento da resposta à infecção | Inespecífico para poliomielite; aumenta em várias condições inflamatórias |
Creatina Quinase (CK) | Medição de CK no soro | Níveis elevados | Indica dano muscular associado à paralisia | Não específico; elevado em várias miopatias e condições de dano muscular |
Lactato Desidrogenase (LDH) | Medição de LDH no soro | Níveis elevados | Indica dano tecidual geral, incluindo muscular | Inespecífico; níveis elevados em várias condições de dano tecidual |
Eletrólitos (Na, K, Ca, P) | Análise de sangue | Alterações eletrolíticas | Monitoramento e correção de desequilíbrios | Alterações não específicas para poliomielite; importantes para manejo clínico |
Gases Arteriais | Análise dos gases no sangue arterial | Hipoxemia, acidose respiratória | Avaliação de oxigenação e equilíbrio ácido-base | Coleta de sangue arterial mais complexa |
Citocinas (IL-6, TNF-α) | Medição de citocinas no soro | Níveis elevados | Avaliação da resposta inflamatória e imune | Inespecífico; elevados em muitas condições inflamatórias |
Sequenciamento de Nova Geração (NGS) | Sequenciamento de amostras virais | Identificação de variantes do vírus | Monitoramento de mutações e epidemiologia molecular | Requer equipamentos avançados e expertise |
Impacto da Poliomielite na Saúde Pública
Complicações
As complicações da poliomielite incluem paralisia flácida aguda, que pode levar a deficiências permanentes e morte. As sequelas da poliomielite incluem deformidades ósseas e articulares e fraqueza muscular residual.
Reabilitação
A reabilitação de pacientes com poliomielite é fundamental para melhorar a qualidade de vida. Inclui fisioterapia, terapia ocupacional e, em alguns casos, cirurgias ortopédicas para corrigir deformidades.
Síndrome Pós-Poliomielite
A síndrome pós-poliomielite (SPP) é uma condição que afeta sobreviventes de poliomielite décadas após a infecção inicial. Caracteriza-se por nova fraqueza muscular, fadiga, dor muscular e articular. A causa da SPP não é completamente compreendida, mas acredita-se estar relacionada ao desgaste dos neurônios sobreviventes que foram sobrecarregados durante a recuperação inicial.
Estratégias de Erradicação
Campanhas de Vacinação
As campanhas de vacinação em massa são a principal estratégia para a erradicação da poliomielite. A OMS e seus parceiros organizam Dias Nacionais de Imunização (NIDs) para vacinar todas as crianças menores de cinco anos, independentemente do seu estado vacinal anterior.
Vigilância
A vigilância epidemiológica é crucial para a erradicação da poliomielite. Isso inclui a notificação obrigatória de casos de paralisia flácida aguda (PFA) e a coleta de amostras ambientais para detectar poliovírus na água.
Desafios
Os principais desafios para a erradicação da poliomielite incluem insegurança, acesso limitado a áreas de conflito, desinformação sobre vacinas e a logística de alcançar populações remotas. A hesitação vacinal, impulsionada por desinformação e desconfiança, também é um obstáculo significativo.
Poliomielite e Vacinas
Vacina Inativada contra Poliomielite (VIP)
A VIP é administrada por injeção e contém poliovírus inativados (mortos). Ela é altamente eficaz na prevenção da poliomielite, mas não induz imunidade intestinal suficiente para interromper a transmissão do vírus.
Vacina Oral contra Poliomielite (VOP)
A VOP é administrada por via oral e contém poliovírus vivos atenuados. Ela é eficaz tanto na prevenção da doença quanto na interrupção da transmissão do vírus. No entanto, em raras ocasiões, os vírus da VOP podem reverter à virulência e causar poliomielite derivada da vacina.
Estratégias Combinadas
Muitos países usam uma estratégia combinada de VIP e VOP para maximizar a proteção individual e comunitária contra a poliomielite. A VIP é usada para induzir imunidade sistêmica, enquanto a VOP é usada para induzir imunidade intestinal.
Situação Atual e Perspectivas Futuras
Progresso Recente
Houve um progresso significativo na erradicação da poliomielite, com a maioria dos países do mundo certificando-se como livres da doença. No entanto, surtos ocasionais de poliomielite derivada da vacina continuam a ocorrer, destacando a necessidade de manter altas taxas de imunização.
Inovação e Pesquisa
Novas vacinas e estratégias estão sendo desenvolvidas para superar os desafios restantes. A introdução de novas vacinas orais monovalentes e bivalentes visa reduzir o risco de poliomielite derivada da vacina.
O Caminho para a Erradicação
A erradicação global da poliomielite requer um esforço contínuo e coordenado. Isso inclui manter a vigilância rigorosa, alcançar populações não vacinadas, melhorar a infraestrutura de saúde e combater a desinformação sobre vacinas.
Conclusão
A poliomielite, uma vez uma doença temida, está à beira da erradicação global graças aos esforços de vacinação e vigilância epidemiológica. No entanto, desafios significativos permanecem, e o compromisso global contínuo é necessário para alcançar um mundo livre de poliomielite. A erradicação da poliomielite não só eliminará uma doença devastadora, mas também fortalecerá os sistemas de saúde e servirá como um modelo para a erradicação de outras doenças.
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